O golpe de 1964 no Brasil foi o primeiro de uma série análoga de implantações de ditaduras anticomunistas na América Latina, particularmente no chamado Cone Sul, no contexto internacional da Guerra Fria. Tendo em vista esse processo, a pesquisa que resultou no livro buscou examinar como a derrubada do governo João Goulart e a implantação da ordem ditatorial no Brasil foi noticiada na grande imprensa da Argentina para perceber como essa construção midiática do golpe no país vizinho atuou junto à opinião pública do país platino no sentido de apresentar tais acontecimentos internacionais como exemplares para a política doméstica. Baseada nos maiores jornais e revistas argentinas do período, a pesquisa acabou mostrando a complexidade dessa questão e as formas diferenciadas de representação do caso brasileiro em termos positivos, neutros ou negativos, vivendo a Argentina do presidente civil Arturo Illia uma crise de muitos modos análoga àquela enfrentada por Goulart no Brasil, a partir das associações do trabalhismo varguista com o “justitcialismo” peronista e de ambos com o perigo comunista. O livro debruça-se, assim, sobre uma questão de múltiplas faces, envolvendo o sistema internacional global, as políticas domésticas do Brasil e da Argentina na região latino-americana e as relações históricas entre ambos os países, como contextos para as construções discursivas jornalísticas acerca da crise, do golpe e da ditadura em implantação. Essa abordagem multidisciplinar, envolvendo História, Relações Internacionais e Comunicação Social, pode ser relevante para inspirar outros estudos do gênero no âmbito acadêmico, bem como para auxiliar na necessária compreensão de processos recentes em ambos os países, e na região sul-americana, que deixaram marcas históricas profundas que se fazem sentir ainda hoje.